Processo político não é golpe

Alysson Augusto
2 min readApr 26, 2016
Num mundo paralelo, os caras-pintadas gritam “Não vai ter golpe!”.

Me parece extremamente problemática a ideia de que, devido ao impeachment ter um viés não só jurídico como também político, ele automaticamente torna-se um tipo de corrupção, um mal que atenta contra a democracia, um “golpe”.

Afinal, o que se está dizendo é que, se algo tem um lado político, logo este algo é mal-caráter. É triste que defendam isso, pois engana-se quem pensa assim.

Toda e qualquer manifestação pública que vise modificar a sociedade (tanto em termos sociais e/ou econômicos) é, naturalmente, política. Quando alguém usa a expressão “político” ou “política” para denegrir uma ação, esse alguém está defendendo a errônea ideia de que “política não presta”.

O que estamos vivendo no Brasil tem sim seu caráter fortemente político, e tem sim seu lado jurídico. O que acontece é que, se realmente defendemos a democracia, devemos defender o fato de que a democracia não se limita à presidência da república.

A democracia é esta grande mescla de interesses que se apoiam mutuamente ou se negam. A partir dessas uniões (para não dizer conchavos) e rupturas, acaba por direcionar o país para algum lugar, seja lá para onde for.

Quando alguém diz, portanto, que “democracia é respeitar os tantos milhões de votos dos brasileiros”, está dizendo, indiretamente, que “democracia é respeitar só esses votos, ignorando as massas que protestam nas ruas e passando por cima dos votos que colocaram os deputados e senadores, responsáveis pelo julgamento da presidente, em seus atuais postos”.

Aceite: a presidente não é a única representante democraticamente eleita. Há diversos outros representantes que, quer você queira ou não, têm legitimidade para julgá-la. E foi o povo, este que você tanto diz defender e amar, que os colocou lá.

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Alysson Augusto

Mestrando em Filosofia (PUCRS). Produzo vídeos de divulgação filosófica no Youtube. Inscreva-se: http://youtube.com/alyssonaugusto