O veganismo pode salvar o planeta. Aqui está o porquê

Alysson Augusto
9 min readJun 16, 2021

Em 2006, as Nações Unidas declararam que o setor pecuário surge como um dos dois ou três principais contribuintes para os problemas ambientais mais sérios em todas as escalas, de local a global.

As descobertas deste relatório sugerem que ele deve ser um importante foco de política ao lidar com problemas de degradação da terra, mudança climática e poluição do ar, escassez e poluição da água e perda de biodiversidade.

E quatro anos depois, eles alertaram que uma mudança global em direção a uma dieta vegana é vital para salvar o mundo da fome, combater a pobreza e os piores impactos das mudanças climáticas.

Então, por que exatamente a pecuária é ruim para o meio ambiente?

Assista ao vídeo abaixo ilustrando o problema da pecuária:

Globalmente, 26% de toda a superfície terrestre sem gelo do mundo é destinada a animais que pastam.

E em toda a pecuária, são usados 83% de todas as terras agrícolas, que fornecem menos de 20% das calorias e menos de 40% das proteínas consumidas.

No Reino Unido, estima-se que 85% da terra usada para agricultura seja apenas para animais, o que representa quase metade de toda a extensão de terra do Reino Unido.

E nos EUA, 41% de toda a terra é usada pela pecuária em comparação com 4% usada para cultivar vegetais diretamente para humanos, com metade de todas as terras agrícolas nos EUA sendo usadas especificamente para a produção de carne, embora só produzam 3% das calorias da nossa dieta.

A criação de animais é a principal causa do desmatamento da floresta tropical, o maior causador da perda de habitat em geral. A pecuária, que também inclui a criação de peixes, é listada como sendo uma ameaça para 24.000 das 28.000 espécies que estão atualmente ameaçadas de extinção.

E quando se trata especificamente da Amazônia brasileira, a pecuária é tida como responsável por 80% da perda de floresta tropical.

Uma investigação recente mostrou que em 2019 os incêndios na Amazônia foram três vezes mais comuns em áreas onde há pecuária.

Quando se trata de soja, cerca de 75% de toda a produção é usada para ração animal, com apenas 6% da soja cultivada sendo usada para produzir produtos à base de plantas, como tofu, leite de soja e outros produtos vegetais alternativos.

Quanto à poluição, um relatório de Oxford afirmou que, mesmo se combustíveis fósseis fossem eliminados, as emissões produzidas pelo setor agrícola por si só tornariam impossível limitar o aquecimento a 1.5 grau Celsius, dificultando inclusive não atingir os dois graus.

Isso significa que mudar nosso sistema alimentar é essencial se quisermos evitar que recifes de coral desapareçam, criando ondas de calor mais extremas, escassez de água, secas e escassez de alimentos para centenas de milhões de pessoas, forçando-as a se tornarem refugiados do clima.

E é essencial se quisermos evitar o desaparecimento da biodiversidade mundial, aumentando as taxas de zonas mortas e extinção de espécies e a elevação do nível do mar causando a inundação de grandes cidades como Mumbai, Xangai, Miami e Nova York, e até mesmo sendo possível que ilhas no sul do Oceano Pacífico desapareçam completamente.

A pecuária é responsável por produzir entre 14.5% e 18% do total das emissões de gases de efeito estufa, o que a torna responsável por mais emissões do que os escapes combinados de todos os transportes globais.

O método de pesca de arrasto é, sozinho, responsável por produzir a mesma quantidade de emissões que toda a indústria de aviação.

Mudar para uma dieta baseada em vegetais pode reduzir as emissões agrícolas em até 73% em nações de alta renda.

E um estudo que analisou 313 sistemas alimentares diferentes, descobriu que as maiores emissões de gases de efeito estufa foram encontradas nos sistemas alimentares que incluíam alta demanda de carne, especialmente focada em carne e leite de ruminantes, enquanto as emissões mais baixas vieram de dietas veganas.

Mas e os produtos animais locais? Eles não são mais sustentáveis ​​que comprar vegetais do exterior?

Bem, não de acordo com a ciência.

Quando se trata de carne bovina, apenas 0.5% das emissões vêm do transporte, e para carne de ovelha são apenas 2%, significando que o problema da pecuária é a própria pecuária.

Mesmo com alimentos vegetais como abacates, apenas 8% da pegada total vem do transporte.

Na verdade, para a maioria dos alimentos, o transporte é responsável por menos de 10%, com a maior porcentagem de transporte sendo apenas um reflexo do fato de que esses alimentos produzem menores quantidades de gases de efeito estufa.

Um relatório que compara as emissões de gases da dieta média entre os países da União Europeia revelou que o transporte foi responsável por apenas 6% do total das emissões relacionadas às dietas.

E quando os resultados foram divididos por alimentos, os produtos de origem animal foram responsáveis ​​por 83% das emissões na dieta europeia em comparação com apenas 17% provenientes de alimentos de origem vegetal.

Nos Estados Unidos, foram analisados ​​os impactos climáticos da escolha alimentar.

E o transporte de alimentos mostrou-se responsável por apenas 5% das emissões em uma família média americana. Isso equivale a cerca de 0.4 toneladas de CO2 equivalente.

O estudo mostrou que substituir as calorias de carnes e laticínios por alternativas vegetais durante apenas um dia da semana economizaria 0.46 toneladas de CO2 equivalente.

Isso significa que comer vegetais em vez de carne e laticínios apenas um dia por semana, teria o mesmo resultado que ter uma dieta com zero milhas alimentares.

A única maneira de produtos locais de origem animal serem mais sustentáveis é se o cultivo de diferentes alimentos fossem ambientalmente iguais, sendo a única diferença as milhas que os alimentos teriam que percorrer.

Este obviamente não é o caso.

Mas a carne bovina não é boa para o meio ambiente, já que o gado em pastoreio pode absorver o carbono de volta ao solo?

Bem, não de acordo com as meta-análises que têm sido realizadas sobre o assunto, afirmando que, embora certos manejos de pastagem possam colocar carbono no solo, na melhor das hipóteses isso representaria apenas 20 a 60% das emissões que os animais produzem em primeiro lugar.

Além disso, depois de algumas décadas, o solo atinge o seu equilíbrio, o que significa que o solo não pode sequestrar mais carbono, ponto em que nenhuma das emissões dos animais seria compensada.

Assim, os agricultores teriam que pastar em mais terras, aumentando as terras usadas para a criação de animais, ou interromper a agricultura.

O que significa que animais pastando não é uma estratégia eficaz de curto ou longo prazo para lidar com o problema.

Nas palavras de uma dos principais pesquisadores,

“O gado de pastoreio contribui para o problema climático como todos os rebanhos. O aumento da produção e do consumo animal, seja qual for o sistema de cultivo e tipo de animal, está causando a liberação de gases de efeito estufa e contribuindo para mudanças no uso da terra.”

Mesmo o menor impacto da carne bovina é responsável por seis vezes mais gases de efeito estufa e 36 vezes mais terra do que proteínas vegetais, como ervilhas.

Aliás, há coisas melhores que podemos fazer com a terra. Por exemplo, pesquisas sobre o sistema alimentar dos EUA descobriram que transformar terras de ração animal em cultivos comestíveis para humanos, especialmente aqueles que promovem resultados saudáveis, como frutas, vegetais e leguminosas, alimentariam 350 milhões de pessoas adicionais em comparação com o que a mesma área de terra produz no atual sistema alimentar americano.

Colocando em perspectiva, existem cerca de 330 milhões de pessoas nos Estados Unidos, o que significa que outra nação do mesmo tamanho poderia ser alimentada apenas com as terras que atualmente são usadas pra alimentar os animais por lá.

Além disso, no Reino Unido, apenas um terço da área atualmente usada para o cultivo de rações para animais poderia alimentar 62 milhões de adultos com cinco porções de frutas e vegetais por dia durante todo o ano — o que, aliás, é quase toda a população do Reino Unido.

Além disso, se o mundo mudasse para uma dieta baseada em vegetais, poderíamos alimentar todas as bocas do planeta e as terras agrícolas poderiam ser reduzidas em mais de 75% — o que, pra se ter uma ideia, é o tamanho equivalente da China, Austrália, EUA e todo a União Europeia combinada, não sendo mais necessários para a agricultura.

Poderíamos reflorestar e restaurar essas terras, trazendo de volta habitats perdidos e revertendo a dizimação da biodiversidade mundial.

Estima-se também que, ao retornar as fazendas de animais à vegetação natural, poderíamos remover o equivalente a 8,1 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono da atmosfera a cada ano.

Isso é cerca de 15% do total das emissões mundiais de gases de efeito estufa.

Portanto, uma dieta vegana não apenas reduziria todas as emissões anuais em cerca de 13%, mas também nos permitiria sequestrar mais 15% do total das emissões anuais de carbono.

Mudar para uma dieta baseada em vegetais também reduziria a acidificação e eutrofização do solo, que é o processo de florescimento de algas e zonas mortas em 50%.

E todas as questões relacionadas à criação de animais vieram de um planeta com pouco menos de 8 bilhões de pessoas.

Nos próximos 30 anos, espera-se que nossa população aumente para 10 bilhões de pessoas.

No entanto, as tendências globais mostram que o consumo de produtos de origem animal está aumentando, independentemente do crescimento da população.

O que significa que, até 2050, a demanda por alimentos de origem animal será 70% maior do que é atualmente.

E a demanda por carne de ruminantes será 88% maior. Isso significa que serão necessários 593 milhões de hectares adicionais de terra. Que é o tamanho equivalente de duas Índias.

Algo claramente precisa mudar e mudar rapidamente. Quanta floresta tropical ainda precisa ser cortada ou incendiada?

Grandes cidades e ilhas inteiras precisam ser submersas?

Quanto mais habitats precisam ser destruídos? E quantas espécies mais precisam ser extintas?

Quantas pessoas precisam sofrer com escassez de comida e água, e quantos refugiados do clima precisa haver antes de percebermos que precisamos mudar nosso sistema alimentar?

Não acredite apenas em mim. O autor da maior e mais abrangente análise já conduzida sobre o impacto da agricultura no meio ambiente afirmou que uma dieta vegana é provavelmente a melhor maneira de reduzir nosso impacto no planeta terra.

Já se passaram 11 anos desde que a ONU nos disse que precisamos mudar para uma dieta baseada em vegetais.

Não temos mais uma década de sobra.

Compartilhe o vídeo: https://youtu.be/uYJSH8d9CqY

Referências:

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  2. UN urges global move to meat and dairy-free diet. The Guardian, 2010.
  3. Livestock’s long shadow. FAO.org, 2006.
  4. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 2018.
  5. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 2018.
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  7. Eating away at climate change with negative emissions. Harvard, 2019.
  8. Here’s How America Uses Its Land. Bloomberg, 2018.
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  11. Biodiversity conservation: The key is reducing meat consumption. Science of the Total Environment, 2015.
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  28. Eating away at climate change with negative emissions. Harvard, 2019.
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  30. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 2018.
  31. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 2018.
  32. Reducing food’s environmental impacts through producers and consumers. Science, 2018.
  33. Avoiding meat and dairy is ‘single biggest way’ to reduce your impact on Earth. The Guardian, 2018.

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Alysson Augusto

Mestrando em Filosofia (PUCRS). Produzo vídeos de divulgação filosófica no Youtube. Inscreva-se: http://youtube.com/alyssonaugusto