Da vez em que perdemos meu cachorro

Me lembro da primeira vez que te vi, cara. Foi a primeira vez em que pude segurar um cão numa única palma da mão.

Minha irmã apareceu dizendo “olha, ganhei da minha amiga!”, e foi amor à primeira vista. Me vi vomitando arco-íris quando vi aquela tua cabeça gigante pro teu corpinho minúsculo. Frágil e branco. Branquelo, na verdade. Era tão branco e redondinho, tão peludinho, que me lembrava a neve, e daí te apelidamos de Floquinho.

Não sabemos como você gostaria que fosse o seu nome, você nunca nos disse. Mas vimos que você gostou desse apelido. Um dia até me lambeu quando te chamei de Floquinho, lembra? A gente tava na área de casa, olhando pra rua e vendo aquele movimento sem graça das pessoas e dos carros passarem.

O tempo passou, e você cresceu. Cresceu tanto que agora nem lembro como é carregar um cão na palma da mão, sem precisar agarrar. Hoje em dia até sinto o seu peso. Quem dera, né? Preciso até te ajeitar no meu peito e te segurar com meu bíceps para não deixar você cair no chão!

Mas você tá aí, vivo e saudável. Forte, aliás. Até já conseguiu me machucar numa dessas mordidas que você me dá quando eu fico empurrando teu focinho pra longe da minha barba.

Sei que você sente saudades do Nick, aquele teu amigão que desapareceu nessa última semana. Claramente te vejo cabisbaixo, e fico me culpando por não ter podido fazer nada para prover mais segurança para vocês dois.

Mas você tá aí, e sempre demonstrou fidelidade. Não importa aonde eu vá, você certamente estará lá, mesmo que tenha que correr atrás de uma ambulância caso um dia eu quebre a perna num desses tropeços que dou em você de vez em quando (vê se pára de aparecer em frente aos meus pés no meio do nada, tá?).

Eu te amo, cara. O Nick voltará em breve, pode ficar tranquilo. E, bom, por mais Floquinho que você seja, por mais que consiga me lembrar a neve quando tá com os pelos super crescidos, te prepara que vamos pra praia!

• Escrito em 31 de Janeiro.
  Até hoje, 19 de junho, o Nick ainda não voltou.